Veronica Oliveira

Mulher, mãe, ex-diarista, palestrante, escritora, empresária e influenciadora digital, Veronica Oliveira é exemplo de persistência, força e resiliência. Hoje, ela é uma das personalidades mais relevantes na discussão sobre o trabalho doméstico no Brasil, que muitas vezes é subestimado e desvalorizado pela sociedade. 

Na verdade, muitas pessoas conhecem Veronica apenas como “Faxina Boa”, seu nome registrado nas redes sociais que já soma mais de meio milhão de admiradores que seguem não só dicas de como fazer uma boa faxina, mas também seus inúmeros posts bem-humorados e vídeos motivacionais que fazem a diferença. 

O Cada Casa Um Caso bateu um papo com Veronica Oliveira, que conta um pouco sobre os desafios pessoais, a trajetória na internet, o livro “Minha Vida Passada a Limpo” e as inúmeras conquistas através da faxina. 

Veronica Oliveira em viagem
(Reprodução/Instagram)

Quando a faxina virou profissão

Veronica Oliveira, por muitos anos, trabalhou com telemarketing. Por uma questão de saúde e também financeira, a faxina entrou em sua vida. Era final de 2016. 

“Durante esse tempo como atendente telefônica, eu desenvolvi depressão e síndrome do pânico e, por isso, passei um tempo no hospital. Depois que tive alta, fui afastada do trabalho pelo INSS e fiquei esperando a perícia – que seria em até 100 dias – para receber o pagamento mensal. Só que eu não podia ficar esperando, sem dinheiro para pagar as contas”. 

Veronica lembra que em um dia qualquer passou a noite na casa da amiga e, naturalmente, começou a ajudar na cozinha, lavar a louça e, por fim, limpar a casa toda. 

“Fiquei feliz com isso e como fazer uma boa faxina me deixou empolgada. Ela me ofereceu um pagamento e, naquele momento, entendi que, se eu me dedicasse à limpeza, minha renda seria maior do que a renda no atendimento de telemarketing”. 

Além do benefício financeiro, ela percebeu que teria mais qualidade de vida, iria conhecer lugares diferentes todos os dias, não teria que vestir uma determinada roupa e poderia até trabalhar ouvindo música. 

“Ao perceber que seria muito mais feliz trabalhando com limpeza, foi uma decisão muito óbvia trocar o telemarketing pela faxina”. 

Começo na internet

Já no mundo das faxinas, Veronica Oliveira entrou para o universo digital. No começo, fazia anúncios do seu trabalho e seus cartões de visita virtuais traziam mensagens engraçadas. Esse jeito bem-humorado da influenciadora deu muito certo!   

“Essa criatividade dos anúncios veio da minha própria personalidade, porque eu sou uma pessoa que faz piada de tudo, gosto de ser engraçada e sempre fui assim, desde a época da escola. Por isso, queria que os anúncios mostrassem esse meu lado divertido”. 

Com mais de 320 mil seguidores no Instagram e presença constante em outras plataformas, Veronica Oliveira foi além. Hoje, a influencer mostra em seus perfis o dia a dia de trabalho, a família e também fala sobre temas diversos, como educação financeira, empreendedorismo e autoconhecimento. É uma voz reconhecida nesse universo de limpeza e trabalhos domésticos. 

“Não era minha intenção, a princípio, ter essa responsabilidade de falar sobre o ofício de faxineira para milhões de pessoas, discutir essa conscientização etc. Isso realmente não estava nos planos, embora hoje seja muito gratificante falar sobre a importância desse tipo de trabalho na sociedade em que vivemos”, comenta.  

Veronica Oliveira
(Divulgação/Manu Quinalha)

Situações difíceis durante as faxinas

Segundo dados do IBGE, em 2021, o número de pessoas atuando no Brasil com trabalho doméstico era de 5,7 milhões. Entre 2019 e 2021, a pesquisa mostrou que as mulheres eram as maiores representantes da profissão e 65% eram negras. A idade média das trabalhadoras domésticas era de 43 anos e a maioria tinha entre 30 e 59 anos. 

Dito isso, podemos observar que a maioria das profissionais de limpeza estão em plena atuação com idade avançada e, muitas vezes, não estão mais aptas a realizarem tarefas que demandam tanto esforço físico. Além disso, muitas faxineiras são contratadas para fazerem trabalhos extras que saem do escopo profissional. 

No caso de Veronica Oliveira não foi diferente! Durante as faxinas, os clientes costumavam pedir limpezas que botavam sua segurança em risco. Em algumas ocasiões, eles pediam para que ela passeasse com o cachorro ou cuidasse das plantas da casa. 

“Já me pediram para ficar do lado de fora da janela, num apartamento altíssimo, para limpar os vidros. Isso deve ser feito por uma empresa especializada e eu não posso aceitar que as pessoas peçam esse tipo de coisa com naturalidade. Meu trabalho era fazer a faxina”.

Para ela, as pessoas não estão habituadas a encarar o trabalho de faxina como um trabalho formal e muitos acabam achando que são “donos” do diarista contratado e que, a partir disso, podem fazer o que quiserem. 

“Isso tudo acaba sendo bem complicado porque mexe com a nossa autoestima, mexe com a cabeça”, afirma Veronica Oliveira, que é vista como uma voz para outros profissionais justamente por conseguir abordar essas e outras dificuldades da rotina dos trabalhadores domésticos. 

Veronica Oliveira
(Divulgação/Manu Quinalha)

Discriminação com os profissionais de limpeza do lar

Mesmo que os trabalhadores de limpeza sejam essenciais para o nosso dia a dia, não há dúvidas de que ainda há bastante discriminação e menosprezo da sociedade com esses profissionais.

Uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2019, mostrou  que os perfis de trabalhadores domésticos, em sua maioria, seguiam as seguintes características: mulheres, negras, com baixa escolaridade e vindas de famílias de baixa renda. Nada diferente da realidade de Veronica, uma mulher negra e com origem na periferia de São Paulo. 

Segundo ela, que faz parte desse perfil e viveu a rotina dessas muitas mulheres faxineiras, o profissional da limpeza é, sim, visto como uma pessoa intelectualmente, socialmente e humanamente inferior. Por isso ela acha difícil que haja uma mudança de comportamento por parte da sociedade e dos clientes que contratam o serviço de faxina. 

Para Veronica Oliveira, quando você oferece uma comida estragada para alguém que está limpando sua casa enquanto você come uma comida fresca, não está vendo aquela pessoa como um ser humano. Quando você impede que o profissional use o mesmo elevador que você, está rebaixando-o de uma forma absurda. 

“Podem se passar décadas e as coisas não mudam. É um processo cultural que vai levar muito tempo para desaparecer. Pode acontecer? Pode! Mas eu não vou ver a mudança e, talvez, nem meus filhos. Acredito que podemos educar os nossos filhos para que não repitam esse comportamento horrível que a gente ainda vê por aí”.

Das faxinas para as palestras

Mudar a imagem das domésticas no Brasil não é simples, mas Veronica já deu passos importantes para diminuir o preconceito e os paradigmas. Depois de todo o sucesso nas redes, ela ganhou os palcos e hoje é convidada para palestrar sobre o tema. 

Quem acompanha conteúdos inspiradores na internet, com certeza deve saber a relevância de ser um dos convidados palestrantes da TEDx Talks, que reúne profissionais de diversas áreas para transmitirem seus conhecimentos ao público em geral. O Faxina Boa fez com que Veronica incluísse mais essa conquista no currículo. 

“Eu amo muito subir no palco, contar a minha história e perceber que a minha história é capaz de impactar a vida das pessoas. E tem sido importante para mim exercer esse trabalho hoje em dia”.

Livro “Minha Vida Passada a Limpo”

Em 2020, Veronica Oliveira lançou o livro “Minha Vida Passada a Limpo – Eu não terminei como faxineira, eu comecei”. Nas páginas, ela conta sobre sua trajetória profissional, o começo como faxineira, além de abrir uma discussão obrigatória sobre o trabalho doméstico no Brasil, a valorização de quem atua na área e seu relato de superação e sucesso. 

capa do livro de Veronica Oliveira
(Reprodução/Capa)

“Quando criança, conversei com uma das minhas autoras favoritas e falei que escreveria o livro um dia. Estava nos meus planos desde os oito anos de idade. Sempre gostei muito de me expressar e ter me tornado depois palestrante e escritora foi uma realização. Era algo que eu não imaginava que eu gostaria, mas imaginava”, revela. 

Ela se orgulha muito da obra Minha Vida Passada A Limpo e fala sobre o significado do  subtítulo:

“Adoro a frase ‘Eu não terminei como faxineira, eu comecei’ porque vejo que, no final das contas, todos os meus sonhos foram realizados através da faxina. Sou muito grata!”.

Gostou de conhecer a história de Veronica Oliveira, do Faxina Boa? Confira também nosso papo com o influenciador digital Guilherme Gomes, do perfil Diárias do Gui, que faz transformações incríveis em casas de acumuladores e mostra como fazer uma boa faxina em seus canais na internet.

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